quinta-feira, 25 de julho de 2013

A noite mais triste


Era uma bela noite de Natal. Jamile olhava seca para a janela de seu quarto.
Nas redes sociais, fotos de seus parentes comemorando o aniversário de Cristo. E ela não ligava muito para isso, porque era ateia - e de qualquer forma, não poderia estar com eles, porque estava em uma temporada no exterior fazendo intercâmbio. 
A garota pensava nos últimos cinco anos de vida. Ela havia adquirido insônia, depressão, transtorno de ansiedade e anorexia nervosa. Se lembrava das noites que passara em claro pensando no seu pânico, no medo que tinha das pessoas. Medo de ser magoada. Tudo por causa de Jaques.
Jaques, seu último e único namorado. Lembrava-se da primeira vez que o viu. Estava em uma cafeteria. Ele chegou sozinho e triste, e sentou-se na bancada ao lado de Jamile. Ela o viu, percebeu que estava soluçando sem parar. Ao beber seu café, o moço derrubou o líquido na bancada. Ele começou a chorar mais alto em cima do café, e a garota disse: "Calma. Vai ficar tudo bem, deixa eu te ajudar." 
Ela tirou seu blazer, e o levou para uma mesa separada. Ficou mais calmo, quando viu a garçonete que a garota chamou estava limpando sua bagunça. Eles conversaram ali por horas e horas, e Jaques havia contado que sua mãe, o único bem dele, havia falecido por um câncer que ele tinha herdado. E agora ele só tinha 8 meses de vida. 
"Tenho que ir" disse o rapaz "já são 7 horas, amanhã eu trabalho".
Ele levantou, virou as costas para pagar a conta e a garota puxou para perto dos seus lábios.
"Deixa eu ser seu objeto de felicidade"
Os seus olhos brilharam, e os dois se beijaram.
Ele a levou pra seu apartamento, e com 20 anos ela viveu a melhor noite da sua vida.
Jaques era um homem que vivia estressado, e tinha um câncer muito agressivo. Fazia faculdade de propaganda e marketing, e era estagiário em uma papelaria. Tinha cabelos castanhos, com algumas mechas loiras. Algumas tatuagens em seu corpo definiam a vontade dele de ser livre. Já Jamile gostava de seus cabelos coloridos e não tinha tatuagens.
Viajaram por vários cantos do mundo, e mesmo ele se enfraquecendo mais e mais, ela sempre iria continuar do lado dele, porque era ele com quem ela queria estar. 
Até que ele não tinha mais forças pra levantar, e estava em casa.
Jamile olhava, admirando sua magreza. Seus lábios brancos.
Ela o amava. Tanto. Daria sua vida por ele.
Então ele abriu os olhos lentamente e disse a ela:
"Meu amor... Eu queria ficar com você pra sempre."
"Você sabe que vai estar sempre no meu coração."
Ela o beijou. Seus lábios frios. Ele não respirava mais.
Desde aquele dia, ela não viu mais algum sentido em viver. Ia a clínicas, pensava em fazer de tudo para ser feliz de novo, mas sabia que nada funcionaria. Nada traria seu amor de volta. Assim, depois de 3 anos, resolveu ir aos EUA para tentar conhecer outras culturas e ocupar sua cabeça. Infelizmente, ela sabia que não iria funcionar.
E naquela noite de Natal, ela não aguentava mais, as noites pensando em seu amado e os dias procurando em cada esquina algo que a preenchesse. Não havia sentido. Ela era adotada, o que fazia se sentir mais longe de sua família ainda. E ela não aguentou.
Pegou todas aquelas pílulas e disse para si mesma:
"E eu espero que a memória de você que guardei dentro de mim por todos esses anos, morra junto comigo."

Andressa Garcia. Plágio é crime. Denuncie para @sosmikeshinoda

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